domingo, 23 de novembro de 2008

A carne mais barata do mercado é a carne negra...

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra...

Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ela estava ali, parada. Era como se o mundo inteiro estivesse naquele pedaço de papel. Lágrimas tímidas, a princípio, começaram a escorrer por aqueles olhos cremosos. De repente, rasgou pela porta, uma sombra esguia, lânguida escorria pelas paredes. Os olhos encontraram-se com as mãos frias, mas acolhedoras. As lágrimas, antes tímidas, tornaram-se tempestade. Catharina não acreditava no que acabara de ler; as palavras foram-se misturando, sua voz fugia-lhe naquele segundo. O tempo do relógio de nada mais importava, as letras saíram, gigantescas, do papel e começaram a devorar o pobre corpo daquela mulher, com olhos cremosos de menina. Isabel, não sabia o que fazer ou dizer para salvá-la da devastação; entrou pelo quarto, iluminado pela luz de uma vela, e correu a acudir a liquidez do espírito de Catharina. Catharina, não chore, me dói nos ossos, enxergar essa doce água que tem teus olhos escorrer-lhe pela pele.
As duas, ali, permaneceram. Catharina, com o peito em nó, não conseguia se mover, a dormência de seu corpo subia-lhe pela espinha e terminava a badalar o sino em suas têmporas. Isabel, aturdida, secava com um lenço de algodão aquela pele rósea que tanto desejava...Elas estavam sozinhas, entre as paredes geladas.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

¿Y qué importancia tengo yo
en el tribunal del olvido?

¿Cuál es la representación
del resultado venidero?

¿Es la semilla cereal
con su multitud amarilla?

¿O es el corazón huesudo
el delegado del durazno?

Neruda