domingo, 21 de março de 2010

less is more...


Um pouco mais recuperada da crise interna...
Um pouco mais tranquilizada pela condição...
E com a pele um pouco melhor...

As coisas são assim mesmo, a vida vem e passa e quando você menos espera, o inesperado acontece...

Apesar da vida ser super simples, a complicamos demais...
É...temos muito que aprender com os ingleses: Less is more...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Canção da parada do Lucas


Parada do Lucas
— O trem não parou.


Ah, se o trem parasse
Minha alma incendida
Pediria à Noite
Dois seios intactos.


Parada do Lucas
— O trem não parou.


Ah, se o trem parasse
Eu iria aos mangues
Dormir na escureza
Das águas defuntas.


Parada do Lucas
— O trem não parou.


Nada aconteceu
Senão a lembrança
Do crime espantoso
Que o tempo engoliu.

Manuel Bandeira

sábado, 6 de março de 2010

Morte e Vida Severina


— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

João Cabral de Melo Neto

É isso...


É uma saudade que amputa
que decompõe a memória
que um dia foi lembrança
e hoje, é só nuvem
uma nuvem de chumbo
pesada, sobre o pensamento

E o corpo rasteja
é um corpo-cobra
sosbre os antigos pilares
da sobriedadede

É vontade de se dicipar
como água de chuva
no meio do mar

É a necessidade de correr
correr em direção a nada
se perder
sem ter hora
razão e habilidade

Quando consumido
nos perdemos
por entre outros
que se misturam

Eu queria a unidade
mas a unidade é um mentira
chrmosa e civilizada
por entre paredes.

Carolina Canon

quarta-feira, 3 de março de 2010

Pra vc guardei o amor...


Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir

Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar

Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar